Novo medicamento capaz de controlar o nível de glicose em pacientes com diabetes tipo 2 será testado em humanos ainda este ano no Brasil. O fármaco contém substância presente na uva e na azedinha.
O resveratrol, molécula que protege contra males associados ao envelhecimento – como doenças cardiovasculares, osteoporose, formação de catarata e perda de memória –, é capaz também de reduzir o nível de glicose em pacientes com diabetes tipo 2. O grande mérito da substância é que ela diminui o nível de glicose no sangue sem produzir os efeitos colaterais dos medicamentos para diabetes disponíveis no mercado.
Presente na uva e em plantas como a azedinha (Rumex acetosa), o resveratrol está na base de um novo fármaco contra diabetes desenvolvido por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), sob a coordenação do químico André Souto. Com o mesmo objetivo, pesquisadores norte-americanos vêm testando o composto, extraindo-o da uva. A diferença é que a concentração que utilizam nos testes (1g a 2g por dia) é, segundo Souto, significativamente maior que a necessária. Por questões de sigilo, o pesquisador brasileiro ainda não pode divulgar a dose ideal da substância. Testes pré-clínicos com animais de grande porte realizados em laboratórios da Faculdade de Biociências da PUC-RS e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo, apresentaram resultados animadores.
O laboratório farmacêutico que detém a patente de uso da molécula no Brasil irá realizar testes com seres humanos ainda este ano. A expectativa de Souto é que o medicamento chegue às farmácias já no ano que vem. De acordo com o pesquisador, até agora nenhum medicamento em todo o mundo contém resveratrol. “Nos Estados Unidos e na Europa só existem compostos e suplementos alimentares à base da substância.”
Do vinho para a molécula
A razão que levou o químico a estudar o resveratrol foi tentar entender o polêmico “paradoxo francês”. Embora os franceses tenham uma alimentação rica em gorduras, a França é o país europeu com os menores índices de doenças cardiovasculares. Alguns trabalhos, que têm o aval até da Organização Mundial da Saúde, sugerem que a causa pode estar relacionada com o clima do país e com o consumo diário de vinho tinto.
Para testar a eficácia do resveratrol, Souto estudou a molécula isolada das outras 400 encontradas no vinho. As análises revelaram diferenciais significativos em relação às demais substâncias, principalmente nos modelos criados para verificar a oxidação de gorduras (lipoxidação) e a coagulação sanguínea. O resveratrol, além de evitar a coagulação do sangue, acelera o processo de lipoxidação.
Um problema apontado pelo pesquisador diz respeito à biodisponibilidade do fármaco, isto é, a velocidade com que ele alcança a circulação sistêmica. Como o resveratrol chegava muito rapidamente à circulação sistêmica das cobaias estudadas, seu efeito era limitado. A solução encontrada foi criar um complexo que envolve o resveratrol com ciclodextrina. Essa molécula, quando utilizada com outras substâncias, controla sua liberação e mantém a estabilidade do sistema.
Azedinha
Em suas pesquisas sobre o uso de resveratrol para combater o diabetes tipo 2, Souto tem extraído a substância também da planta conhecida no Brasil como azedinha. Essa hortaliça, afirma o pesquisador, possui cem vezes mais resveratrol do que a uva. Mas, por conta da legislação brasileira que regulamenta a extração de plantas nativas, medicamentos à base de R. acetosa deverão levar um tempo significativamente maior para começar a ser produzidos.
*Katy Mary de Farias
Via Ciência Hoje